sexta-feira, 5 de abril de 2013

Conceito de Estilística de acordo com o site Wikipedia

É o ramo da linguística que estuda as variações da língua e sua utilização, incluindo o uso estético da linguagem e as suas diferentes aplicações dependendo do contexto ou situação. O objeto preferencial de estudos estilísticos é a literatura, não exclusivamente a "alta literatura" mas outras formas de textos escritos, na publicidade, política ou religião.
Por exemplo, a língua de publicidade, política, religião, autores individuais, ou a língua de um certo período, todos pertencem a uma situação particular. Em outras palavras, todos possuem um "lugar". Na estilística, analisa-se a capacidade de provocar sugestões e emoções usando certas fórmulas e efeitos de estilo. Também tenta-se estabelecer os princípios capazes de explicar as escolhas particulares feitas por indivíduos e grupos sociais em seu uso da língua, tal como a socialização, a produção e a recepção do sentido, análise crítica do discurso e crítica literária. Outras características da estilística incluiem o uso do diálogo, incluindo acentos regionais e os dialetos desse determinado povo, língua descritiva, o uso da gramática, tal como a voz passiva ou voz ativa, o uso da língua particular, etc. Muitos linguistas não gostam do termo "estilística". A própria palavra "estilo" possui diversas conotações que dificultam a definição do termo. Entretanto, no criticismo linguístico, Roger Fowler diz que, no uso não-teórico, a palavra estilística faz sentido e são úteis referindo-se a uma série de contextos literários, tais como o "grande estilo" de John Milton, "o estilo da prosa" de Henry James, o "épico" e "estilo da canção popular" da literatura clássica grega, etc. (Fowler. 1996, 185). Além disso, a estilística é um termo distintivo que pode ser usado para determinar conexões entre forma e efeitos dentro de uma variedade particular da língua. Consequentemente, a estilística visa ao que "acontece" dentro da língua; o que as associações linguísticas revelam do estilo da língua.

Figuras de Linguagem

Percebe-se no refrão da música, que aparece logo em seu início, a figura de linguagem Assonância (repetição de vogais) e na primeira estrofe após o refrão, a presença da Aliteração (repetição de consoantes). Estas duas figuras, dentro da sonoridade da música, possibilitam um ritmo mais calmo através dos sons de suas consoantes e vogais. Sugerem à imaginação cores e ambientes claros. 

O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora

Aqui, onde indefinido
Agora, que é quase quando
Quando ser leve ou pesado
Deixa de fazer sentido

Pode-se abrir um breve comentário que nem todos os casos as vogais signifiquem e representem pelo seu som uma cor clara e escura. Podemos citar, a exemplo disto, as vogais /a/ e /u/, que segundo a Teoria das Vogais e das Cores causam a ideia de claridade, relacionado à primeira, e a ideia de escuridão, relacionado à segunda. Podemos citar a palavra Luz conforme esta teoria. Apesar de conter a vogal /u/ dando esta ideia de escuridão, juntamente com o fonema /l/, sugerindo fluidez e o fonema /z/ prolongando traços de suavidade, a palavra denotará e transparecerá um significado diferente daquilo que a vogal /u/ representa.

Na estrofe seguinte, nota-se a presença da Sinestesia (sensações, percepções: ouvir, falar, escutar, sentir, tocar, mirar)

Aqui, de onde o olho mira
Agora, que o ouvido escuta
O tempo, que a voz não fala
Mas que o coração tributa

Como intertextualidade, pode-se relacionar a presença da Sinestesia na música com um período da Literatura chamado Simbolismo que possuía uma linguagem rica em símbolos, como o próprio nome nos leva a pensar, e a presença marcante da musicalidade. Há, também, a presença da Metonímia, neste caso, a parte pelo todo: o olho que mira, o ouvido que escuta, a voz que não fala, o coração que tributa, ao invés de dizer diretamente "a pessoa" que mira, que escuta, que fala, que tributa. O compositor enfatizou, assim, as sensações, as emoções. Com isso, o ouvinte será inserido no espaço do "aqui" e "agora" que a canção transmite.

Nas próximas estrofes, há a presença da Antítese (inversão) da mesma forma que está presente, também, na segunda estrofe com as palavras "leve" e "pesado" e na penúltima estrofe "aqui" e "depois". Com elas, a canção não narra o tempo e espaço definidos, porém, busca encontrar o ponto de equilíbrio que fará viver o "aqui" e o "agora".

Aqui, onde a cor é clara
Agora, que é tudo escuro
Viver em Guadalajara
Dentro de um figo maduro

Aqui e longe, tentando equilibrar o tempo.

Aqui, longe, em Nova Deli
Agora, sete, oito ou nove
Sentir é questão de pele
Amor é tudo que move

Com as figuras ditas anteriormente e outras que se encontram nesta linguagem musical como: Metáforas e Comparações, a canção trará juntamente com sua melodia, ritmo e letra uma imensa interpretação que é dada a cada ouvinte.

Aqui perto passa um rio
Agora que eu vi um lagarto

A Metáfora/Comparação com a vida e a morte. Uma etapa que nasce e outra que se encerra. O que em nós precisa "morrer" e "nascer"?

Morrer deve ser tão frio
Quanto na hora do parto

Aqui, fora de perigo
Agora, dentro de instantes
Depois de tudo que eu digo
Muito embora muito antes

O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora

A figura de linguagem presente, fortemente, que nos permite ter esta gama de pensamentos, sensações, que a canção deseja alcançar é a Polissemia. Causará em cada um, com própria sensibilidade, o valioso e vasto efeito de interpretação.








Análise do aspecto rímico da canção "Aqui e Agora"

A canção é iniciada pelo refrão, e é justamente no refrão que será encontrada  rima menos "inspirada" da canção, por assim dizer; tal rima será formada através da repetição da única frase presente no refrão: "O melhor lugar do mundo é aqui e agora". Mas como que há só uma frase no refrão? "O melhor lugar do mundo é aqui" e "E agora" estão presentes em dois versos diferentes, portanto há duas frases compondo o refrão, certo? Não. Na verdade, esse efeito é produzido através da técnica denominada enjambement (ou cavalgamento, em português) que nada mais é que a ruptura de uma unidade sintática ao final de um verso.
A primeira estrofe que segue o refrão possui rima interpolada, enquanto a segunda estrofe após o refrão possui rima alternada. Daí em diante, as rimas alternadas irão monopolizar a canção, tornando-se uma constante até o final da mesma. É importante frisar também a associação entre os aspectos tônico e rímico nessa canção, uma vez que, à exceção do refrão, dentre as rimas ao final dos versos não figurará qualquer palavra oxítona ou proparoxítona (o encontro vocálico io presente nas palavras rio e frio presentes na décima estrofe pode ser pronunciado tanto como ditongo ou como hiato, o que daria a essas palavras o status tanto de oxítonas como paroxítonas). Com o uso de paroxítonas ao final dos versos, o Gil aproveita essa curva ascendente em termos de volume para terminar o verso de uma maneira mais "arrastada", alongando um pouco a última sílaba em cada um dos versos.


O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora 

Aqui, onde indefinido

Agora, que é quase quando
Quando ser leve ou pesado
Deixa de fazer sentido 

Aqui, de onde o olho mira

Agora, que o ouvido escuta
O tempo que a voz não fala
Mas que o coração tributa

O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora 

Aqui, onde a cor é clara

Agora, que é tudo escuro
Viver em Guadalajara
Dentro de um figo maduro

Aqui, longe, em Nova Deli

Agora, sete, oito ou nove
Sentir é questão de pele
Amor é tudo que move 

O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora 

Aqui perto passa um rio

Agora eu vi um lagarto
Morrer deve ser tão frio
Quanto na hora do parto

Aqui, fora de perigo

Agora, dentro de instantes
Depois de tudo que eu digo
Muito embora muito antes 

O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora

Interpretação de Carla Visi da canção "Aqui e Agora" de Gilberto Gil


Interpretação de Mari Monteiro da canção "Aqui e Agora" de Gilberto Gil


Análise da Canção ""Aqui e Agora" (Gilberto Gil)


Aqui e Agora (Gilberto Gil)

O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora

Aqui, onde indefinido (lugar não especificado, qualquer lugar)
Agora, que é quase quando (refere-se ao presente/passado/futuro. Tempo indefinido)
Quando ser leve ou pesado (Sua cor, religião, raça, tanto faz)
Deixa de fazer sentido (não importa, aproveite a vida, viva o momento)

Aqui, de onde o olho mira (o olho está atento ao alvo, está focado)
Agora, que o ouvido escuta (antes não ouvia)
O tempo que a voz não fala  (silêncio/passado)
Mas que o coração tributa (rende homenagem, saúda, saudade)

O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora

Aqui, onde a cor é clara (paz/calma/pureza)
Agora, que é tudo escuro (mistério/fantasia/morte/luto)
Viver em Guadalajara (
"Pérola do Ocidente", clima e atmosfera agradáveis)
Dentro de um figo maduro (viver o amor/fazer amor/o´rgão sexual feminino)

Aqui, longe, em Nova Deli (Oriente- zona sismíca, suscetível a terremotos)
Agora, sete, oito ou nove (passagem do tempo)
Sentir é questão de pele
Amor é tudo que move

O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora

Aqui perto passa um rio
Ago
ra eu vi um lagarto (presente/passado, lagarto = estado contemplativo)
Morrer deve ser tão frio (separação-frio/união –calor)
Quanto na hora do parto (nascer/partir/desligar-se)

Aqui, fora de perigo
Agora, dentro de instantes (refere-se ao futuro próximo)
Depois de tudo que eu digo (desvio da norma para reafirmar o presente)
Muito embora muito antes


O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora

Análise da Canção

A canção refere-se à contemplação do(s) melhor(es) momento(s) “Aqui e Agora”, em que a intenção do autor é eternizar e valorizar este instante através de sensações e pensamentos, buscando um equilíbrio entre o espaço e o tempo. Para reafirmar esta contemplação e consciência de viver o momento, aproveitar a vida, a canção começa com o refrão e terminar também com o refrão criando um movimento cíclico.
Quando afirma que "O melhor lugar do mundo é aqui/E agora", ha´uma repetição, a fim de enfatizar e deixar  isto memorizado. Este espaço e tempo pode ser qualquer um, ele é indefinido. Esta indefinição de tempo e espaço está presente em todo texto, por exemplo em "onde indefinido" há uma redundância, pois "onde"  é um pronome indefinido e vem acompanhado da palavra indefinido. Outro exemplo é " Agora, que é quase quando", temos uma indefinição do tempo, pois o "agora" não conseguimos determinar de forma precisa. Quando nos referimos ao que falamos neste exato momento, sempre vamos colocar o verbo no passado para nos referir à fala, ou seja, é "O tempo que a voz não fala".
Na citação "Quando ser leve ou pesado/Deixa de fazer sentido", há uma indefinição do sujeito, pois não importa sua cor, religião, raça. O importante é que este sujeito aproveite a vida, viva o momento.
A canção é feita de memórias/lembranças. Neste verso "Aqui, de onde o olho mira/Agora, que o ouvido escuta", o sujeito está em um plano que ele pode não apenas ver, mas mirar o foco, estar atento e também ouvir o que antes não ouvia. Ele está realmente atento a este momento, em silêncio, pois este é "O tempo que a voz não fala/Mas que o coração tributa ". Portanto, refere-se ao passado, mas se torna presente em suas lembranças, na saudade (tributa = rende homenagem, saúda, saudade).
Nesta lembrança "Aqui, onde a cor é clara", é um momento de paz/calma/pureza, mas que envolve mistério/fantasia, pode ser um momento durante à noite, mas que há luz para que eles  (amantes) possam se ver/olhar, contemplar este momento sublime do amor/prazer/sexo. E pode-se confirmar este momento nos versos seguintes: "Viver em Guadalajara" (esta é considerada a "Pérola do Ocidente" devido clima e atmosfera agradáveis) e "Dentro de um figo maduro (viver o amor/fazer amor/órgão sexual feminino).
No verso "Aqui, longe, em Nova Deli", já se encontra em outro momento, Nova Deli é uma região do Oriente, uma zona símica, ou seja, trata-se de uma área suscetível a terremotos, embora não esteja exatamente neste momento turbulento. Em "Agora, sete, oito ou nove " temos a passagem e a indefinição do tempo, porque a definição não é o importante e sim o que se vive. Portanto, o importante é ter esta sensibilidade e perceber a dinâmica do viver, do amor ("Sentir é questão de pele/Amor é tudo que move").
Neste momento "Aqui perto passa um rio", este verso dá sentido de movimento pelo verbo "passa", pois poderia ser tem, e este rio que passa não é o mesmo, ele está em movimento, em mudança constante. E se reafirma esta mudança na figura do lagarto, que muda de pele, de cor, tanto para se defender quanto para atacar, tudo depende do momento. O lagarto também fica parado no sol em estado contemplativo e nós contemplamos também o momento (passado/presente/futuro). Em "Agora eu vi um lagarto" notamos o equilíbrio entre presente e passado e consequentemente um desvio da norma, pois se nos referimos ao "agora", a frase ficaria da seguinte maneira"Agora eu vejo um lagarto", com o verbo no presente, e não "vi" que o passado do verbo ver.
Em "Morrer deve ser tão frio", este frio se deve à separação  dos corpos/da pessoa amada/daqueles que amamos, pois para mantermos aquecidos, quentes devemos estar juntos/unidos, com a união temos o calor. No verso "Quanto na hora do parto" refere-se também a este frio durante a separação, embora esteja fazendo menção ao nascer que é oposto ao morrer, eles se compartilham este frio da separação. E também encontramos uma polissemia para a palavra "parto" em "Quanto na hora do parto", pois pode se referir a hora da despedida. Temos um ditado popular que diz "A dor do parto é triste, mas eu tenho que partir", ou seja, no sentido de se despedir, deixar alguém.  
Na lembrança do "Aqui, fora de perigo", percebemos a contemplação deste momento sem maiores consequências para si, ele está em segurança, ou seja, ele pode "caminhar" pelas lembranças sem nenhum risco, sem cometer erros, sem preocupações. Em "Agoradentro de instantes/Muito embora muito antes " refere-se ao futuro próximo. "Depois de tudo que eu digo"desvio da norma para reafirmar o presente, o momento, e manter este equilíbrio entre o espaço e o tempo, a condensação destes. E para finalizar a canção ele retoma o refrão fazendo, como já foi citado, este movimento cíclico e a transitoriedade da vida.


"Aqui e Agora" (Gilberto Gil)

"Aqui e Agora" (Gilberto Gil)






O melhor lugar do mundo é aqui 
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora

Aqui, onde indefinido
Agora, que é quase quando
Quando ser leve ou pesado
Deixa de fazer sentido

Aqui, de onde o olho mira
Agora, que o ouvido escuta
O tempo que a voz não fala
Mas que o coração tributa

O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora

Aqui, onde a cor é clara
Agora, que é tudo escuro
Viver em Guadalajara

Dentro de um figo maduro

Aqui, longe, em Nova Deli
Agora, sete, oito ou nove
Sentir é questão de pele
Amor é tudo que move

O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora

Aqui perto passa um rio
Agora eu vi um lagarto
Morrer deve ser tão frio
Quanto na hora do parto

Aqui, fora de perigo
Agora, dentro de instantes
Depois de tudo que eu digo
Muito embora muito antes

O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora